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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

ELEIÇÕES DE 2014 - VOTO DE LEGENDA

Uma questão que sempre intrigou os cientistas políticos foi a questão do VOTO DE LEGENDA em nosso país: não gosto do candidato, portanto só vou votar no meu partido. Na verdade, ao logo do tempo se discutiu essa questão e não se compreendia como o povo brasileiro votava sem se ater à sigla partidária para dar lugar à preferência pelo candidato como pessoa física que se identificava consigo. Pois bem, contrariamente a esse costume, nos países chamados civilizados, dá-se preferência à filosofia adotada por cada agremiação. Naturalmente, que com a prevalência daquele que melhor se ajusta aos pensamentos e interesses da sociedade, como é o caso dos Estados Unidos, onde, muito embora existam mais de 200 partidos, os que aparecem mesmo são apenas dois, o Democrático e o Republicano, os quais historicamente se revezam no poder central da República, a depender do comportamento do Gestor público na condução dos interesses nacionais. Certamente que por se tratar de um País onde o Direito é regra geral de conduta aplicável a todos os indivíduos indistintamente, é permitida a existência dos chamados partidos “nanicos”, aqueles que congregam as minorias das minorias, mas que não encontram receptividade junto ao povo.
No Brasil a coisa é bastante diferente, vota-se, ou votava-se pela preferência do candidato, ficando de fora qual o partido a que ele pertence. Quem não se lembra do ex-presidente Collor de Melo, que saiu candidato a Presidente da República por um partido insignificante, sob o aspecto da tradição partidária, mas que ganhou as eleições? Votou-se naquele momento no homem jovem e bonito, que prometia tirar o Brasil das mãos dos corruptos, modernizar as estruturas dos meios de produção e tantas outras promessas. A sigla partidária foi o que menos importou naquela ocasião. Outros exemplos podem ser citados, como a candidatura de SÍLVIO SANTOS, um empresário de sucesso e apresentador de televisão querido por todos, que saiu candidato a Presidente da República por um partido de aluguel, que chegou a gelar muitos políticos carreiristas; e o ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES, com sua imagem de homem honesto e trabalhador. Tudo a demonstrar que o eleitor sempre votou dissociado da preferência partidária, aliás, ele não tem preferência por partido, exceto agora, quando isso ganha novos contornos. E é aí onde devem se debruçar os cientistas políticos para explicar esse fenômeno.
Por tudo isso, foi com surpresa que os estudiosos da política nacional perceberam uma mudança nas eleições deste ano, diante da divulgação das pesquisas de intenção de votos, onde aparecem os candidatos com maiores índices de rejeição, inclusive, com manifestações contrárias a certos partidos políticos, nos quais afirmam jamais votarem. De igual modo, embora digam votar em certos partidos, o fazem não porque o desejam, mas porque temem perder alguns benefícios.
Diante do que se observa, inclusive fora do âmbito das pesquisas, é que há um forte movimento que prega o voto de legenda, na medida em que diz: vote em quem você quiser, mas não vote em tal partido. Não se trata de repúdio ao candidato, pois muitos deles até que gozam da simpatia e da confiança do eleitor. A questão reside, substancialmente, na rejeição partidária, por conta do que as pessoas sabem referente ao perigo que correm, caso determinado partido ocupe ou continue ocupando o poder. Portanto, aí está a resposta que incomodava tanto os estudiosos políticos, de forma que a persistir essa postura eleitoral, muita novidade poderá ocorrer no final desse pleito, quando aqueles que se sentiam imbatíveis perceberem que o povo é que é o dono do poder e que o eleito nada mais é do que um administrador da coisa pública e ao povo deve prestar contas de suas ações.

Notadamente, que em outras ocasiões já tivemos algumas rejeições partidárias, como foi por ocasião da abertura política pós revolução de 1964, quando o PCB, o PC do B, o MDB, a ARENA dos militares, e depois o PDS foram antipatizados e rejeitados pelo povo brasileiro; em outro momento foi a vez do PFL e outros partidos, os quais tiveram que trocar de siglas.  Em suma, vive-se no momento um claro repúdio a determinadas legendas, umas mais, outras menos, mas que há uma rejeição partidária isso é inegável. As pessoas passaram a gostar de um partido político como se gosta de um time de futebol. Agora, se isso é um reflexo da consciência política e do aumento de civilidade do nosso povo, só o tempo nos dirá.


Dr. Adilson Miranda de Oliveira, advogado, presidente das Comissões de Direitos Humanos, e de Direito e Prerrogativas da OAB-Ibicaraí, e Vice Presidente da Associação dos Advogados da Bahia.

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