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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

CRISE DE AUTORIDADE


Sabemos que toda a autoridade é constituída por Deus, mesmo aquelas consideradas indecentes, desastrosas, corruptas, autoritárias e desumanas, e, por conseguinte, merece de todos o respeito e a consideração necessária, na medida em que a mesma esteja investida de poderes que lhe foram conferidos por quem de direito, até porque, é quem tem o direito de representação e está legitimado a agir em nome daqueles que o elegeram, pois, o sucesso ou insucesso de sua gestão refletirá, induvidosamente, na vida das pessoas que estiveram diretamente interessadas ou susceptíveis de sua atuação.
Pois bem, se uma autoridade não cumpre com o seu dever legal, ou o faz de forma diversa daquela que as regras estabelecidas ditam, forçoso é reconhecer que se estar diante de alguém que prevarica no cargo, se estabelecendo aí uma crise de autoridade e ou autoridade ausente, principalmente quando permite e aceita que outra usurpa as suas prerrogativas.
Na verdade, nos dias atuais o que mais se ver é esse tipo de autoridade, cuja atuação desonra o cargo, na medida em que se envereda por caminhos diversos daqueles que lhe foram traçados. Assim, qualquer autoridade pode até cometer equívocos ou errar no cumprimento do dever, todavia, jamais se pode admitir que o faça de forma consciente, porque isso não é exercer a autoridade da qual está investida, mas agir levianamente e contra a Lei.
Pois bem, vamos aos exemplos: todos sabem que invadir a propriedade de alguém, interditar uma via pública, dilapidar o patrimônio público, violar a privacidade e a integridade física de alguém, desrespeitar uma ordem judicial, e tantos outros atos individuais, são crimes que estão tipificados na Legislação Penal Brasileira, e merecem a atuação da autoridade competente para que cesse ou impeça a continuidade de tal anomalia. Mas, o que ver com frequência é a autoridade se omitindo no cumprimento do seu dever, ou agir de forma contrária a Lei, punindo o inocente. Veja-se o que acontece nos casos dos invasores de terras, a polícia é orientada, não sei por que, a ir ao local, não para proteger os proprietários, mas para proteger os invasores, os quais ali são mantidos, apesar de serem encontrados armados, após terem expulsado os verdadeiros proprietários e saqueado os bens móveis e semoventes encontrados. Onde é que está o cumprimento da Lei? Que autoridade é essa? Seguramente que há aí uma crise de autoridade, pois a Norma Constitucional está desrespeitada. Ademais, não se pode mais utilizar da figura jurídica do desforço incontinente, pois aí o dono do imóvel é preso em flagrante e autuado por diversos crimes, como “formação de quadrilha”, “porte ilegal de armas”, “tentativa de homicídio” e muitos outros. E o que se dizer quando grupos interrompem uma via pública impondo a autoridade dizendo o que esta deve fazer o onde devem ser feitos tantos quebra-molas, por exemplo, apontando os lugares onde os mesmos devem ser edificados, prejudicando toda uma região, com sérios prejuízos econômicos e sociais e, com reflexos irreparáveis a milhares de pessoas? Certamente que há aí também uma desmoralização da autoridade que se submete a tal exigência.
Com efeito, se tudo isso se constitui violação a Lei, então porque as pessoas que praticam esses crimes não são processadas, considerando ainda que elas afrontam policiais, quando não os atacam com armas, como foi caso do episódio de “Eldorado dos Carajás, onde a polícia teve que recuar para não morrer e não matar muitas pessoas”? Induvidosamente, isso é mais do que o simples silêncio da autoridade, é omissão mesmo e prevaricação no cargo, com possibilidade de se responder criminalmente.
Outra questão que gera indignação é o fato da pessoa querer trabalhar, mas quem está fazendo greve usa de meios violentos para não deixar que essa pessoa exerça o seu direito de não querer fazer greve, sem se falar nos serviços considerados essenciais e que não podem parar, enquanto a autoridade assiste a tudo isso de forma complacente ou como quem está manietada.
Verdadeiramente que situações como essas refletem a negativa do estado de direito, gerando a insegurança nas instituições, além de fomentar a impunidade e a ideia de que, assim como os invasores, qualquer pessoa pode fazer o que bem quiser porque nada vai lhe acontecer. Num país decente crime é crime, não importa quem o pratique, se o rico e poderoso, se o político, se o trabalhador, se o pobre miserável ou qualquer uma autoridade. O que se leva em conta é a violação da Lei, cuja aplicação é igualitária para todos. A desordem como ora se verifica, sem dúvida, não contribuirá para diminuir as injustiças sociais, muito menos para que haja uma melhor distribuição da renda Nacional. E que Deus nos proteja.
                    

Dr. Adilson Miranda, é advogado, vice-presidente da AAB-Associação dos Advogados da Bahia e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB.